segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Sonho perdido





A muito que não escrevo
Ficaram tristes as promessas
E longe os caminhos

Aquela nossa viagem
Nunca foi feita
Achei que poderia faze-lo sozinho
Treda ilusão

Ela entrou para rol das coisas irrealizáveis
Apenas isso
Um sonho perdido
Na gaveta junto a papeis velhos e alguns clipes

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Fala que é


Subo no palco de meus pés
Quero gritar para o mundo, mas ele é deserto
Não há ouvidos que me escutem
Nem bocas capazes de falar os altos tons universais

É tudo tão rude neste mundo de aparências
Que mal percebo a vastidão do mundo
A muito deixou de ter rimas
Mas continuamos procurando solução

Quando os sons saem pela boca
A fala se mistura com o poder
A tal ponto que confundem o poder com as palavras
As querências com os atos

Eu que não sei do mundo
Se não por este espelho torto
Eu ... amante das palavras
E sua música poderosa

Não posso arriscar um pronome se quer
Meu sujeito é verbo indefinido
Fora da gramatica ... sem rima
Preso no próprio discurso que evita

Amanhã ... quando a curva do tempo
Transformar esta língua em que falo
Em figuras nas cavernas da história
Alcançarei a inutilidade real

E nesta imagem vazia
Devaneio como um tolo
A buscar qual quer coisa que importe
Que importe

Insanidade do eterno ... cuspido pela curva do tempo
Fala que é
Não é
Tanto faz

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sou poeta


Faz 10 anos que escrevo poemas
Será que já sou poeta?
Desde quando e até quando
Serei poeta?

Foi quando fiz meu primeiro verso ... primeira rima?!
Ou quando terminei o melhor de meus poemas?!
Não, já sei!
Foi quando percebi

Que ser e ser poeta é fingimento
Ou melhor é ser ator único
Estrelando uma peça só sua
E a plateia é mero acaso do mundo

Com o problema da gênese resolvido
Poeticamente é claro
Por que filosofo ou critico algum
Se daria ao trabalho

Voltemos a pergunta
E até quando serei poeta?
Pode se ser depois da morte?
Será este meu último poema?

Minha última cacofonia
Que balbucio sozinho
Nesta madrugada fria

Será este meu último poema?
E não farei mais versos
Porque são inúteis
Palavras que escapam da insônia de um mundo torto

Será este meu último poema?
Não porque morrerei amanhã
Mas porque não farei mais versos algum
Deixarei enfim o encanto e o desencanto de ser poeta

Sou poeta
Eu sei que não é muito
Mas é tão pouco que as palavras
Ficam com dó do ser poeta

É tão pouco
Que acabamos criando entidades morfológicas
Talvez para suprimir a solidão
Ou acabar com tédio de um mundo tão vazio

Sou poeta
Tenho em mim todos os sonhos do mundo
Não sou alegre não sou triste
Sou poeta

Posso parafrasear outros poetas
Sem medo de processos
Posso esticar os ouvidos dos puristas
E dizer assim solene aqui jaz um neologismo

Posso rir da cara dos críticos
Porque nunca ouvirei nada
Eles não nos entendem
E nem nós os entendemos

Sou poeta
Dentre tantas coisas no mundo nasci assim ... poeta
Pequeno de nascença,
Mas com o mundo inteiro a conquistar

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Ao Antônio





Para falar do Antônio
Precisaria falar do tempo
É como se sempre o conhecesse
E nunca o conhece de fato, tal como o tempo

Para falar do Antônio
Precisaria substituir as palavras pelo movimento do corpo
É como se não houvesse palavras
E tudo fosse traduzido no olhar e na vibração da alma

Antônio quando olha
Olha reto
E quando é forçado a arquear sua visão de momento
É só silencio ... e quando se menos espera ... eis Antônio reto outra vez

E quando Antônio quebra
Tudo quebra com ele
E ele transforma os cacos em uma nova viagem
Um caminho sincero para seus passos diretos

Antônio quando passa
Ele arrasta com sigo não uma massa histérica
E sim leais amigos
Amantes de sua retidão para com sigo mesmo

As ninfas do lago
Observam pasmada Antônio a apreciar as flores
E elas o alimentam sem receio dos deuses
Sereno ato de amar no silêncio

Antônio quando ama
Ama
De tal forma que cupido seu amigo mais intimo
Não gasta suas flechas da paixão em vão

Antônio tem a força da vida
Correndo nas veias
Sabe a força do tempo
E valor do momento e dos sorrisos a ladrilhar o cotidiano

Antônio ...

Hoje em plena quarta feira
Abri uma cerveja e brindei a ti meu amigo
Irmão querido de tantas viagens
E tantas a viajar

Fui eu o primeiro a te ver sentado naquele dia
Querendo levantar quando não podia
Ninguém pôs fé no sorriso desesperado
E no insólito que acompanha nossas vidas

Antônio supera
Com música e poesia
Hoje seus pés flutuam
E nas pedras aprendeu desde cedo que são partes do caminho

Antônio ... irmão ... amigo
Um brinde eterno a ti meu querido

terça-feira, 20 de março de 2018

A fala do passado





Ontem acontece hoje
Ecos na mata ainda reverberam hoje
Saímos de cavernas e desaprendemos a viver
O passando fala línguas que ignoro

Meu corpo fala e quase não escuto
O silencio da madrugada berra em meus ouvidos
Como um bêbado insone
Que sabe que nada importa de verdade

Tenho memorias de amanhã
Que não ouso falar
E tangencio a loucura
Na crença momentânea deste devaneio

Sim ... Me permito crer por instante
Que passado, presente e futuro
É tudo a mesma nenhuma coisa
E a fala não esbarra ela roça e vai me levando

A não sei o que de não sei aonde
Ah! E a madrugada vai passando
E vou costurando cadencias de um despertar sonambulo
É como se hoje estivesse tão empregando de ontem

Que ele não acontece
E fica o dia assim raiando embaçado
Meio sem cor meio sem jeito de estar
Um desajuste contemporâneo de querer ser tudo
Mas o passado fala línguas que ignoro

A fala do passado
É meu jeito de estar existindo
Ver nos atos sem estar vendo

domingo, 18 de fevereiro de 2018

A fala e a realidade


Os ouvidos doem
Quando a fala não representa
Aquilo que não queríamos
E a realidade corrobora

Mas quem fala ... fala
Parece obvio
Mas os ouvidos não escutam
O que há de verdade também

O silencio de um irmão dói
Mas a fala pode cura-la
Os gritos de uma mãe no desespero ... dói muito
O silencio ameniza, mas a fala cura

Quando falares
Saibas
Que falas com a realidade
A sua realidade

Quando falares
Reflita com a sabedoria do silêncio
E fale com a emoção de quem grita
Fale com sua boca e sua mente

Mais uma obviedade ignorada
Não importe quem fale
Escute
Mas não escute como quem quer falar

Escute como se você fosse ele
A tal ponto e de tal forma
Que falar se torne difícil
E você se pegue retorcendo no silencio

Para quem sabe mudar a realidade
Quando se muda a sua realidade
Muda-se também a de quem ouve de verdade
Caminhos tortos daquele que fala

Para se falar deve-se estar disposto a mudar
Arte difícil a da fala
Para mudar o Brasil por exemplo
Deve-se mudar o brasileiro

Não com esta ignorância gentia
De nos pré desqualificar
E sim com que há de bom em tudo isso
Façamos piadas de nos mesmos

Porque esta é nossa marca criativa
E da piada tiraremos o que há de sério também
Aos poucos a fala vai encorpando
Passo a passo ... Dor a dor

Porque real é assim
Nos exige muito
Para falarmos pouco
Mas o pouco é o necessário para mudar

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Quando se deve falar



Aquele que fala
Só pode ouvir no silencio
Seus gritos foram abafados na multidão
E os versos estão cada dia mais distante

Aquele que fala
Fala pela boca do tempo
Esta ordem de se usar as palavras
E ser por ela usado

Quando acordar amanhã
E ontem for esta necessidade
De acontecer como devia
Um passado imemoriável

Ele jura que viveu
Como quem vive assim
Despretensiosamente
Simples como uma borboleta

O que resta é este estar vivo
As expectativas e os sonhos
São só palavras no dia a dia
Seus sentidos são tortos

As palavras são tortas
Quando o mundo fala
Calemos e observemos o silencio
Que desprende deste coro desafinado

Um gato falou ... que se foda
Bom dia no meio do dia
Acordaram para dar os seus bons dias
Antes mesmo do café

Ninguém põe reparo no seu bom dia
A maquina urge urra e sussurra
Tudo ao mesmo tempo agora
Como se amanhã não fossemos

Um vídeo engraçado está carregando
E parou assim no meio
Nem foi tão engraçado assim
Mais um piscou na tela ... mais um numero que temos

Não ... não temos nada

Ah! mas tem o grupo da família
Grupos do churrasco daquele dia
E não acabou até hoje
Grupos dos amigos

Grupos de poesia que mal abro
Poeta adora copiar um bom dia
Apago tudo antes mesmo de ler a memória está cheia
Estou cheio de tudo e repleto de nada

Estão todos aqui comigo
Mas não vejo ninguém
Só a solidão de uma sala de espera
O voo atrasou

Mas que se foda-se
Não foi isso que gato falou?!
Perdoe o poeta sua licença
De estrupa o português sozinho

Ahn um vídeo do Charles Chaplin
É ele aparafusando a maquina
Enquanto aparafuso minha vida
Ele não sonhava, mas sabia

Uma corrente de deus
Uma piada não lida
Um meme para alegrar a vida
Filosofias instantâneas de como vive-la

Desligo esta tela ... e vou viver
Abro um bom livro
E vou compartilhar a solidão

Comigo mesmo

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A fala por traz dos olhos


Você vai tomar conta de minhas poesias?
Não sei
A paixão tem destas coisas inenarráveis
Espiral louco e necessário

Quando o tema sobrepujará a forma
Mais uma vez?
Não acredito que problema estético da arte
Envesou em meu poema de amor

Fez desta fala diária
Um soar mais leve e ordinário
Como se Pirro
Tivesse perdido a guerra

E perder ou não é tão irrelevante
Como as primeiras pinceladas do quadro
Aquele que fica escondido por traz de cores fortes
Do cotidiano ... irreparáveis

Ah! Mas o reparo que escorre do hiper-real
Neste realismo oculto
É só um filtro qualquer
De um aplicativo moderníssimo

Arte instantânea
Que mistura o velho do novo
Faz Paul Gauguin ser civilizado
E não fugir pra selva

Amor liquido tem destas cores
Que Van Gogh não ousaria pintar
E a Impressão fosse mero acaso nas bordas
Das cores pastéis de fotos inexprimíveis

Chega!!!

Com este eu lírico louco de erudição desmedida
Tu não fotografas o que há de simples no amor também
Rafael se orgulharia destas formas abauladas e etéreas
Linda paixão escorrendo pelos lisos vermelhos de seu cabelo

Falar com os olhos é como estar louco
Perceber os passos antes de caminhar
É saber do agradável para além do outro
Como se deus menino abandonasse Alberto Caeiro

E não fosse ele o defensor de todos os muros
Falar com os olhos é não saber sabendo
É como fazer um poema de amor
E o tema não fosse este

Aquele que fala com os olhos
Fala de dentro debruçado na janela
Não fecha o poema com chave de ouro
Porque representa a infinidade do instante

E como todos os versos acabados ou não tem seu fim
Falar dos olhos é volta ao esbranquiçado do quadro

Um Silencio na contemplação do amante