sábado, 30 de dezembro de 2017

Entre o Encanto e o Desencanto



Não interpreto mais o silencio
A fala já grudou em minha boca
E nossa costura ficou assim suspensa
Entre os desejos alterados por um sorriso mal dado

Mal interpretado

Se eu pudesse fugir dos clichês
Como uma presa foge de suas escolhas
Talvez pudesse ser sublime, mas não posso
Minha fala é reta e meus caminhos tortos

Ontem quando nos beijamos
Foi ontem ... eu sei
A possibilidade do encanto
Nos fez encontrar mais uma vez no desencanto

A expectativa faz dessas coisas
A borboleta não sabe onde vai pousar
Porque só voa pelas linhas do acaso
E nós olhamos assim desconfiado

Teimamos em querer nossos quereres
O ultimo o beijo é como a última fala
Ando na loucura
Porque meus pés caminham pela sanidade

É no desencontro que se vê na fresta do entendimento
Sua música para mim ainda é mistério
Não posso querer mais que isso
No abismo onde o vazio existe é onde quero pular

E pular não resolve nada como deveria ser

Poderia no ato final deste poema
Pedir perdão por esta carta não endereçada
Por estas inferências absurdamente reais
Mas a vida é nossa e de todo o mundo

E todo perdão é em vão

Se não tem o que perdoar  

sábado, 16 de dezembro de 2017

A alma do falar

 

Olhando bem funda na alma
Vasculhando o vazio e suas falas
Nasci assim entre o sonho e a necessidade
Falo baixo porque minha voz é muito

Voz rouca temperada na loucura
Esconde meus braços de pegar o mundo
E não saber usa-lo
Sou um tronco na cidade bolha

Apenas uma metáfora da fala e do não saber
Ignoro um sorriso ontem porque hoje não sei de nada
Meus pés caminham por estradas que não conheço
E toda tentativa de ser assim é uma desnecessidade de alma

Porque ser é desprovido do querer ser

As musas se foram e me deixaram com a solidão e a fala
Descobri que os pássaros acordam com a luz branca
E os espectros encarnado do sol nascendo
É o despertar do dia no fogo de Hórus

Mas isso também não importa
Quando a fala cai no ouvido da gente
Ela tem a força da natureza
Tal como Marco Polo não falava trivialidades

Conversar com os pássaros é um privilégio da loucura
Assustadoramente encantador
Terrivelmente belo
Beleza apreciada por poucos e almejado no dia a dia

Estou escolhendo meu caminhar
Porque meu Norte é todos os pontos cardeais
E a liberdade dos pássaros me ensina a voar
Ensina a acordar para luz do sol

Eu que entendo as coisas envesadas
Contorço minhas palavras na tentativa
De dar cabo ao sonho e sua loucura amena
De ir vivendo este cotidiano

E predicado alguma de falar deste sujeito ordinário
Porque o cotidiano é filho do Cronos
Neto de gaia com sua beleza simples
Ele é cinza encarnado de todas as cores

É o bêbado que se levanta na esquina
E cruza com a senhora que volta do sacolão
São as folhas no quintal de uma velha
E ela só limpa a passagem

O cotidiano é assim
Extraordinariamente belo para quem tem olhos
Encantador para quem tem ouvidos
Sublime para quem vive o agora

Para quem vive no amanhã ou no ontem
Ele é cinza ... uma passagem para não vida
Desperdício terrível de se estar querendo viver
e não vive
Mas falar dele é perde-lo
Tal como areia não mão
Quanto mais se quer falar
Menos se sabe

A fala nasceu para endireita-lo
E ele é o que é
Por isso na alma da fala

Há o desejo dos que ouvem de verdade