A cada onda que passa
Cada verso que fica
Poderia rasgar o peito
Rasgar as palavras
Mas no fim não faria diferença alguma
Todo verso é inútil
Toda poesia é inútil
Mas também não faz diferença alguma
Poderia usar todos os pronomes
Tempos verbais que não definem nada
Palavras em cima de palavras
Tal como as ondas tem esta força intima
Ir já vindo
Ser já sendo
Dicotomias que Heráclito
Não poderia obscurecer com seu desvelamento
As serias cantam pra quem tem ouvidos
Perigo ignorado pelo viajantes sempre
Viajar é preciso
Mesmo carregando barris de petróleo nas tanques
O mar é vazio como a morte
Para quem caminha ele se faz liquido
Tal como os olhos moderníssimos
Quem navega sente a dureza de suas ondas
O impacto de seus cantos
Sempre a nos causar espanto
No breu profundo da noite
Que nos acalenta o peito
Deve ser assim … morrer
Não sei
Não ultrapasse a linha do indizível
Meu caro poeta
Tu só tem as metáforas ... nem tão afiadas assim
Então se segure como pode
As palavras não tem culpa
Nem sós culpado de usá-la
Mas faça-me o favor de não ultrapassar a linha
Porque?! Ah! caro poeta
A fronteira do belo e desejável
Não é como as linhas do estado
Ou melhor
Ela não existe
É apenas horizonte nos olhos dos que veem
Desejo na voz do que fala
Dança imperfeita dos sons e das palavras
Estão tentando superar o insuperável
Sonhar para depois da alvorada
A noite no mar tem qualquer coisa
Da morte a espreitar a vida
Insondáveis espaços vazios
Para baixo,d’água não sei
Para cima uma brisa afaga o rosto
Cansado deste marítimo
A vida não passa de uma só palavra
Talvez o mar tenha a resposta que procuramos
Talvez não há respostas a procurar
São só perguntas
E tudo isso não deveria me afetar
Ou melhor não me afeta
Se eu pudesse ver a afetação
Seria brisa no furacão do cotidiano
Vendamos então nossa própria morte
Em parcelas fixas de se viver a vida
Talvez ali esta brisa soe mas útil
Como uma canção de amor mal feita
Um desajuste de um sistema torto
Que deve funcionar
Tem que funcionar!
Quando o mar exigir seu preço
Eis que ei de perceber
Que sempre estive diante da morte
A enganar o estômago
Diante da vida sem vive-la
Mas vivi
Juro que vivi
Não importa
Nada importa
São só ondas
A bater no costado