segunda-feira, 20 de junho de 2016

No quarto escuro



Hoje não sei
Talvez nunca soube de fato
Não sei ... Também se algum dia
Eu pensei ... tu me ouves?

Não nem me conhece
Porque? Não sei
Queria morrer eu sei
Mas não sei se seria a solução

No quarto escuro
Ilumina-se o silêncio
O mistério de não ter face alguma
Tenho face só para o espelho

Mas não me olho
Sou um nó desatado do real
Tu que me ouves
Me olha por dentro como jamais pude fazer

Um sorriso de uma foto velha
Fez você voar com os pés no chão
Pés descalço que não perde a objetividade
Ordinária poesia decantada do real

Ontem eu vi o mundo passar
E ele era cinza mais uma vez
Tal como aquele filme antigo
Que teve graça por não por ter graça alguma

Quantos minutos não passei aqui
Costurando esta solidão?
O silencio de domingo ... sim
É sempre mais profundo

Todos dormem para não ser
Dia útil
Eu inútil verso de natureza distinta
Saboreio liberdades neste quarto escuro

Quarto perdido na noite
De milhões de quartos
Só me resta o silencio
E a solidão

Amanhã quando o sol nascer
Mudo de ideia
Para voltar de novo
A este momento

Triste fim daquele que não sabe
Aquele que não se arrisca em saber
Espera cair em seu colo seu próprio desejo
Ele não deseja e não sabe desejar

Sim ele
Este outro que não fui
Mas sempre andou por ai
Vestido de mim a falar aquilo que eu não sabia

Eu surpreendido sempre
Não questionava
Seguia seus passos para adiante
Seus pés erravam no caminhar reto

Ele não perdoava
Há de ser normal
Para completar a normalidade
Encaixar no utilíssimo momento do espaço ... agora

Quando se olha a escuridão nos olhos
Quando se ouve o silêncios das palavras
Pode-se dizer sou livre
Preso na ignorância de saber

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Narciso não quer ver



(Precisamos de uma terapia social)

Um abraço e um beijo
Nos olhos de Capitu
É no que não sabemos
Que temos todas as certezas


No silencio se tem a certeza de se estar existindo
Um vazio corpo balançando nos assertos ordinários
Passagem do discurso para a fala
Da evidencia para o fato

São sempre “in-certos” momentos do agora
Assertivos dardos das minha palavras
Lógica interna de se achar sempre
Para não titubear diante do extraordinário

Devemos crer com quem sabe
Pensar como quem age
Sonhar como que vive

E lá na esquina dobram-se o cotidiano
Pisam nas palavras de uma possível verdade
E querem que elas representem a realidade
Mas elas são tortas e nasceram assim

E não adianta querer muito delas
Porque ?!...
Porque há mais verdades no silencio
Do que todos os livros da estante

Cada pausa destes versos
Momentos de inspirações efusivos
Brotaram de um silencio
A posteriori sempre

Narciso não quer ver
Não quer cumprir o destino
Narciso quer sonhar que vive
Morrer sonhando é melhor
                                                           Porque não se morre de espelho

No espelho não se afoga
Se acha ... fotografa
Se vive na evidencia pura do agora
Filtrada em belas ferramentas virtuais do engano

Sou aquilo que quero ser
Corrijo a realidade para amenizar as coisas
Reparar os erros e as arestas
Me encaixar perfeitamente hermético

 Porque afinal a tela não perdoa
Os olhos não perdoam
Devemos então fura-lo?
Não ... Por favor Édipo não invada meu espaço

Então ...
Todas os deuses são metáforas do que devo ser
Não ... não fale todos
Não fale sempre
Não aprendeste nada na escola da relatividade?

Me parece
Sugiro
Neste aspecto
São boas palavras para não se dizer nada

Afinal
Quem nada diz
Comunga com os erros da verdade
Quem justifica o nada

Galga os degraus dourados da história
Siga a corrente remando seu próprio barco
Mais fácil meu caro amigo
Deixe o esforço no labutar das palavras

E agora como eu costuro esse devaneio todo?
Como eu termino estes versos soltos?
Talvez não termine

E boto mais na conta do silencio